quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A cada quadro um remendo.
A cada noite um rasgão.
A tua boca arregaça-me os olhos e descose-me em palpitares descontrolados,
Os teus dedos bordam lençóis com gotas de suor e laivos de cetim vermelho.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

0..*

A saudade não é mais que uma vénia perdida na porta de um templo pagão à culpa.
A glória dos que nos deixam não é mais do que o ventre de pedra de um anel perdido.
O tempo que passou é a soma dos passos para longe dos ventos da tua voz dura.
E eterna é a constante expansão do espaço em cada molécula do teu suor.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Saber que o pecado é bom. Saber que para os Homens é tão doce. A noite vela as faces e a culpa e deixa tudo sob a sua forma primordial. Despir não basta, mas faz parte da jornada para um fim. As tuas mãos grandes, quentes e hábeis despem o corpo de roupa e controle e despertam as células há muito adormecidas e controladas. Resistir é inútil! Nada nos separa do animais. A razão está morta em nós, porque nós a matámos. O desejo é feroz e carnívoro. Quero comer-te ininterruptamente.
O calor proporciona as reacções e a fusão parece inevitável. Sendo que somos partículas de diferentes cargas aglomerámo-nos. Não existe ar entre nós... mas não chega. As tuas mãos que me varrem o corpo que entram em mim e saem de mim para o ar frio do Mundo. Ninguém compreende o que nos une. Tolos que não vão nunca acordar.
Todos os poros gritam... por favor...mais... Os meus lábios sentem a tua pele húmida e viva. E são tantos os cheiros. Álcool. Tabaco. Almíscar. O doce aroma de feromonas que acaba com a mais pudica menina. Mas não comigo. Nunca comigo. Não mais.
Leva-me para realidades alternativas. Leva-me... O que é que nos impede? EU! Mas quero-te todo em mim. E tu sabes. Tu sentes o meu corpo trémulo de desejo sob o teu. Beija-me! Quero sentir os teus lábios. Quero provar mais do que o que queres dar! Beija-me! Tudo o que quero neste momento é um beijo. Sentir os teus lábios pressionar os meus, abri-los lentamente e sentir a tua língua dançar na minha. Não podes resistir para sempre, tão pouco vais conseguir.
Resistir é para os fracos. Nós somos os bravos, vamos mais além. Desbravamos novos territórios. Eu sou o Brasil e estamos em 1500. Por favor sê Portugal. Abre em mim novos caminhos, novas rotas.
Não sejas carinhoso nem doce comigo. Por favor não! Prefiro o chão frio ou a parede dura à suavidade monótona dos lençóis. Mas tu sabes. Lês-me como a um livro ilustrado. Prende. Morde. Sente. Sou tua. Usa-me.
Ambos sabemos o que fazer. Parafraseando Pessoa, “é a hora”. Leva-me já para outros portos. A parede apoia-nos e abafa os gritos. A carne é fraca, mas não a tua. Sinto em mim toda a tua masculinidade, todo o teu poder. Estou subjugada a ti. Não pares! Prende-me as mãos, tenho medo de fugir. Guia-me pelas realidades paralelas de onde entramos e saímos continuamente. Somos entes contíguos em todas as realidades. Abafa-me os gemidos. Lá fora somos marginais.
Agora tudo é fim. Tudo são sombras das coisas. Só isto existe durante os segundos de um grito, de um rubro.
E como começa acaba. Lá fora alguém grita. Tocamos uma partitura de silêncios.