quinta-feira, 22 de abril de 2010

Naquele beco onde te escondes na ilusão de que és forte, quebrei-te em gemidos.


Foi numa noite demasiado quente para Janeiro que te encontrei no escuro. A tua face velada iluminada apenas pelo fumo de um cigarro perto do fim em tons espectrais de cinza. Todo o ambiente feito de contornos de fantasia e irrealismo. O vento fustigava e chicoteava. Talvez fosse essa a causa de tanto calor, a fricção das partículas. Ou então as nuvens que acasalavam desenfreadamente em clarões e rugidos extremos de êxtase. Queria evitar que o vento me levasse e o vento levou-me a ti.
E tu levaste-me.
Mas um trovão! E com a luz o teu olhar algemou-me.
Terceiro clarão.
A tua mão forte apertar-me a garganta, molhada, da intempérie e de medo. O rufar do meu coração era audível e as veias azuis pulsavam em contraste com a pele glaciar.
O som da tua voz ao roçar tirou-me do chão: "Cheiras a doces." E um tremor tomou de assalto o meu corpo.
"E tu cheiras a virilidade e pólvora. Caminhadas ao inferno e histórias no escuro. Cigarros inacabados. Meios fumados e poupados ao fim."
 

Rodopiou-me contra a parede num foutté arrebatado. Soltou-me as mãos e prendeu o tempo.

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